Imagem: Pintura de Fernand Toussaint
__________________________________MERGULHOS NOS PENSAMENTOS
Mesmo absorta nos meus pensamentos dia após dia, a paisagem que vislumbro da janela do meu quarto nas manhãs de sol ou de chuva, não me passa despercebida.
De repente, desligo-me da minha leitura no sofá. Começo a acompanhar o movimento do rio que corre cauteloso e manso refletindo a paisagem com toda cumplicidade e liberdade, admirando a cachoeira, suas franjas brancas ou azuladas e nuvens aladas, povoando seu leito em flocos de pureza.
Por horas a fio, questiono-me como seria se eu tivesse essa serenidade e cumplicidade ao me deslizar na vida enfrentando tudo o que é tão natural e belo.
Reflexiva e intrigada, meu pensamento volita no espaço e, sem pedir licença, ele se vê acompanhando o volteio das andorinhas em pontos negros, compartilhadas e amistosas e, logo me imagino entranhada na paisagem e no meu divagar, supondo que o dia quer sorrir.
E me pergunto: porque é tão difícil sorrirmos assim?
Ainda observo a chuva que visita a relva sedenta, as pedras e o entardecer, a lua imergindo nas águas sonolentas, num toque de magia encantadora, tal como é mágico o meu pensar...
Aí, torno-me mais pensativa e indagadora, pois entendo que não existe nenhum sofrimento ou imposições para essas coisas acontecerem...
Imersa nas minhas conclusões, presencio a noite entristecer o dia e disputar a nova manhã. Vejo-me refletida naquele rio, mas é o meu coração que fala de mim, do meu sonhar, dos meus desejos e de alguém me amar. Que incríveis são os pensamentos! Orientam-nos sempre!
Emergindo deles, penso num modo de amar de forma mansa, enfrentando a vida em torno com mais sorrisos do que tristezas, com verdadeiro compartilhamento de amor e cumplicidade duradouras; um envolvimento natural, contornando os tropeços, mas não debatendo-os - como o rio - seguindo em frente em todos os dias e em todas as noites que despontam no meu existir.